Copos de iogurte: desafios associados à reciclagem e à circularidade
Ao pequeno-almoço, ao lanche e até como sobremesa, o iogurte faz parte das rotinas alimentares dos portugueses. É prático, versátil e nutritivo. Mas, depois de consumido, sabe o que acontece a estas embalagens, que chegam a representar toneladas todos os anos?
Mesmo quando são corretamente depositadas no ecoponto, nem todas as embalagens de plástico se reciclam da mesma forma ou com a mesma eficácia.
Os copos de iogurte são disso exemplo. São maioritariamente compostos por poliestireno (PS) ou polipropileno (PP), materiais que são reciclados para processos de baixo valor acrescentado, em comparação com outros tipos de plástico, nomeadamente o PET (politereftalato de etileno) ou o PE (polietileno). Esta situação apresenta-se como uma oportunidade de melhoria em termos de circularidade e traz desafios acrescidos ao sistema de reciclagem atual:
– Contaminação – os restos de iogurte são contaminantes e por isso podem exigir necessidades acrescidas para garantir a necessária qualidade do material reciclado.
– Complexidade da triagem – é difícil separar o PS dos outros plásticos com que está misturado no ecoponto tradicional de forma exclusiva, essencialmente por ser uma fração estatisticamente mensurável, mas pouco representativa, ou seja, falta massa crítica.
– Baixa taxa de reciclagem – a percentagem destes plásticos que é efetivamente reciclada para processos de alto valor acrescentado é ainda reduzida.
Mas o futuro pode ser diferente! O projeto de Investigação & Desenvolvimento (I&D) ReciCup propõe-se a encontrar soluções que permitam usar os materiais no fabrico de novos copos de iogurte.
Apesar da informação sobre o volume de circulação deste tipo de embalagens ser escassa, segundo Ana Machado Silva, Area Manager, Foodtech & Sustainability, R&D and Innovation da MC, responsável pelo estudo, “as projeções apontam para cerca de 7.400 toneladas de copos de iogurte consumidas anualmente. Do total, as estimativas sugerem que apenas uma fração minoritária – 5% a 15% – é recolhida e encaminhada para reciclagem.” Se aperfeiçoarmos a triagem e o processo de reciclagem, podemos transformar estas embalagens em material de igual ou maior valor.
Um compromisso 100% circular e o papel fundamental da comunidade
O projeto ReciCup nasce como ponto de partida para a concretização de uma das metas da MC (SONAE) para 2025: assegurar que 100% das suas embalagens de marca própria sejam recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis. Por considerar os copos de iogurte um dos principais entraves à concretização deste ambicioso plano, a empresa uniu esforços com a Intraplás S.A. e o PIEP – Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros, para encontrar uma solução.
Com o ReciCup, a MC investiga e procura validar a viabilidade técnica, social, económica e ambiental da reciclagem dos copos de iogurte pós-consumo.
A teoria saiu do papel entre abril e novembro de 2024, com a implementação deste projeto-piloto.
O projeto ReciCup envolveu 11 pontos de recolha Ecospot Continente no Grande Porto, que já facilitavam a deposição seletiva de resíduos específicos como pilhas e baterias, rolhas e cápsulas de café, entre outros.
A grande novidade foi o envolvimento dos mais novos através da ligação a 12 agrupamentos escolares, na mesma região. Uma abordagem que mobilizou professores, alunos e respetivas famílias, com base num incentivo simples: ao colocarem copos de iogurte limpos nos Ecospots, os agrupamentos recebiam prémios que beneficiavam a comunidade escolar.


Triagem e tecnologia
Uma das atividades do projeto ReciCup foi validar a possibilidade de separação do PS e PP em linha de triagem automática, um passo fundamental para assegurar a qualidade dos materiais.
Atestada a eficácia da triagem, o material fica pronto para a transformação: é submetido a uma caracterização exaustiva, que inclui análises químicas, físicas e mecânicas, que asseguram a sua pureza e qualidade. Uma vez caracterizado, o material é então reciclado e transformado em pequenos grânulos que depois incorporam uma percentagem de novas embalagens. Com o seu valor equivalente assegurado fecha-se o ciclo do copo de iogurte e promove-se a economia circular.

Impacto e próximos passos
Com término previsto para março de 2026, as conclusões preliminares desta iniciativa já atestam a sua importância.
“Do ponto de vista ambiental, evita que estes resíduos acabem em aterro, promove a reciclagem e incentiva a incorporação de plástico reciclado em novos produtos, reduzindo a dependência de matéria-prima virgem. Já no plano económico, demonstra que é possível gerar valor a partir de resíduos, criando oportunidades para a indústria e para as comunidades locais. Na vertente social, destaca-se pela componente educativa e comunitária. Ao envolver escolas e consumidores, promove a consciencialização ambiental e incentiva comportamentos mais sustentáveis”, explica Ana Machado Silva.
Prova de que, com investigação e parcerias estratégicas, é possível dar um futuro mais verde e circular a um dos resíduos mais comuns do nosso quotidiano, o projeto ReciCup promete impulsionar a economia circular em Portugal. “Para além de ampliarmos o conhecimento sobre a recolha e a valorização de copos de iogurte, sensibilizamos os consumidores para a reciclagem”, conclui Ana Machado Silva. É objetivo da MC Sonae desenvolver novos produtos a partir deste plástico reciclado, envolver os stakeholders e disseminar os resultados para toda a comunidade, da industrial à científica.
Projeto apoiado e cofinanciado pela Sociedade Ponto Verde no âmbito do seu Programa de I&D
