Da reciclagem de embalagens se faz vestuário inclusivo

A sialorreia (produção excessiva de saliva) e a hiperidorese (transpiração em excesso) têm grande impacto físico e psicossocial na vida de muitas pessoas. Minimizar tanto quanto possível esse impacto foi a ideia da consultora de inovação social Blindesign, em parceria com a Associação BIPP – Inclusão para a Deficiência.
Assim nasceu o RE2(W)IN. Vestuário inclusivo, funcional e lavável. Uma ideia que mexe, também ela, com a economia circular através de fibras obtidas de resíduos de embalagem PET.

O RE2(W)IN visou a criação de soluções sustentáveis e inovadoras, a partir de metodologias de investigação, desenvolvimento e inovação (ID&I) e design inclusivo e sustentável. “Além de tratar problemáticas específicas, permitindo o contacto com pacientes, o projeto viabilizou novas formulações técnicas que suscitam o seu debate e, nesse sentido, modelos mais fiáveis de articulação entre as questões ambientais e sociais”, explica Nuno Mesquita, sócio gerente da Blindesign.

O propósito e a complexidade deste projeto inovador mobilizaram diferentes esferas de competência. Por isso, o RE2(W)IN assenta num consórcio que envolve toda a cadeia de valor, desde o resíduo de plástico à estrutura têxtil funcional, culminando na produção de três peças de vestuário com design inclusivo, prontas para comercialização.

Sobre quem fez o quê, temos a Evertis, como fornecedora de resíduos de garrafas de PET óleo, já tratadas e prontas a processar. Depois, o CeNTI, como centro de tecnologia e inovação, que trabalhou na transformação dos resíduos e desenvolvimento de fibras funcionais, para capilaridade melhorada. E, finalmente, a TINTEX no desenvolvimento de estruturas têxteis funcionais, para a gestão de humidade. Em parceria com a BIPP, a Blindesign identificou as necessidades dos pacientes através de testes de usabilidade e, adicionalmente, criou os requisitos funcionais e os produtos com base nos princípios do design inclusivo.

Um punho, um lenço, um colete
… para minimizar as diferenças

Do ponto de vista técnico e funcional, foram atingidas as metas do calendário do projeto. “Desenvolveram-se fibras de capilaridade melhorada a partir de embalagens recicladas, estruturas têxteis para gestão de humidade e um sistema de produtos final que cobre as necessidades identificadas”, sublinha Nuno Mesquita, reforçando que esse sistema de produtos representa o resultado da colaboração estreita com a BIPP e o cumprimento dos objetivos técnicos e sociais do projeto.

Em relação aos produtos, o RE2(W)IN desenvolveu um punho e um lenço, para proteção e limpeza do couro cabeludo, rosto, pescoço e mãos; e um colete, para proteção da zona abdominal e peitoral.

O porta-voz do consórcio refere que “o aspeto mais inspirador deste projeto reside na sua contribuição para a promoção da igualdade entre pessoas com diferentes condições físicas e cognitivas”. E concretiza ao assinalar que “estas peças de vestuário são acessíveis a uma vasta gama de indivíduos, independentemente da idade ou de necessidades específicas. O material utilizado torna-as adequadas para serem usadas todo o ano, seja no verão ou no inverno. Mais do que simplesmente absorver saliva ou suor, as peças visam combater o estigma e a exclusão social relacionados com a hipersalivação ou com a transpiração excessiva”. 

O desenvolvimento de projetos nestas temáticas é, de acordo com os responsáveis do RE2(W)IN, uma garantia de que todas as pessoas, todas elas, têm as mesmas oportunidades e a mesma capacidade de participar na sociedade e de estar livres de discriminação e desvantagens. “É também nesta perspetiva que o design inclusivo constitui uma ferramenta essencial para permitir a criação de soluções adaptadas às diferentes necessidades e que proporcionem uma experiência positiva e inclusiva para todos”, faz notar Nuno Mesquita.

Os resultados obtidos no RE2(W)IN perfilam-se como ponto de partida, transversalmente, para outros desenvolvimentos tecnológicos alinhados com estratégias de sustentabilidade e para novos desenvolvimentos no âmbito do design inclusivo.

Entretanto, avança o porta-voz do consórcio, novos conceitos e novas propostas de projetos estão desde já em equação, antevendo outros desafios clínicos e sociais que se mostrem pertinentes para intervir. “A sustentabilidade continua a ser o foco”, frisa Nuno Mesquita, o que passa pela “utilização de materiais reciclados ou de origem bio, bem como pela otimização de processos têxteis e de confeção que permitam diminuir a geração de resíduos”.

Este é um projeto apoiado e cofinanciado pela Sociedade Ponto Verde no âmbito do seu Programa de I&D