De cuvetes usadas, a novas cuvetes:o ciclo perfeito da economia circular

Se já comprou carne fresca, marisco, fiambre ou queijo fatiados, ou comida pré-feita, provavelmente já levou para casa uma cuvete de plástico multicamada. Práticas e com as características ideais para preservar os alimentos, podem, no entanto, ser um desafio para a economia circular. O seu processo de reciclagem está a melhorar. E todos nós temos um papel.

Rígidas e, na sua grande maioria, compostas por várias camadas de plástico – geralmente PET [politereftalato de etileno] e PE [polietileno] – estas embalagens permitem a conservação dos alimentos por mais tempo, muitas vezes com menos oxigénio no seu interior, que asseguram a sua frescura e garantem a segurança alimentar até ao momento do consumo.

O problema? O processo atual de reciclagem apenas permite que os materiais que compõem a cuvete de plástico multicamada sejam reciclados em conjunto. Como consequência o plástico PE contamina o plástico PET, reduzindo a sua transparência e qualidade. Para contornar esta falta de transparência recorre-se à cor, mas este material reciclado nunca poderá ser usado para o mesmo fim: embalar alimentos.
A boa notícia é que já há mais uma solução à vista.

A tecnologia que fecha o ciclo

Este cenário, que acabamos de apresentar, vem sofrer alterações dada a existência de uma tecnologiainovadora, já aplicada a outros materiais. Trata-se de um novo processo de delaminação mecânico, desenvolvido e patenteado pela empresa Fych Technologies, uma startup espanhola.

“A ideia surgiu quando estávamos a trabalhar na Universidade de Alicante como investigadoras a estudar os diferentes desafios que o setor da reciclagem enfrenta. Um dos desafios que identificámos foi, precisamente, a baixa reciclabilidade de embalagens de composição multicamada, em geral. Começámos, assim, a desenvolver e validar o processo para ser capaz de separar as diferentes camadas das embalagens. Mais tarde a Formaspack, produtora deste tipo de cuvete plástica, perguntou-nos se poderíamos também separar os materiais deste tipo de embalagens. Tentámos e adaptámos o processo de delaminação para estas cuvetes PET multicamada”, explica Oksana Horodytska, CEO e co-fundadora da Fych Technologies.

Esta tecnologia separa as camadas de PET e PE sem danificar qualquer dos materiais. Numa solução à base de água, são aplicados reagentes químicos suaves que degradam apenas o adesivo que une os dois tipos de plástico. Ao contrário de outros métodos – que dissolvem um dos materiais, geralmente o PE, mas usam químicos agressivos que acabam por afetar também o PET -, esta abordagem preserva a integridade do PET, alcançando uma pureza de 99,5%.

O resultado? Um material reciclado de qualidade praticamente igual ao original, capaz de ser utilizado para produzir novas cuvetes transparentes para alimentos, promovendo, assim, mais uma via para uma verdadeira economia circular. Ou seja, uma cuvete usada pode dar origem futuramente a outra cuvete.

Fecha-se o ciclo. Responde-se à escassez de material reciclado para todas as aplicações. Reduz-se a necessidade de recorrer a matérias fósseis para produzir PET ou PE. A pegada ambiental da indústria de embalagens diminui. O planeta e todos nós ganhamos.

O que todos podemos fazer

Apesar dos avanços tecnológicos, Oksana Horodytska refere que há um obstáculo relevante com que se deparam: “a qualidade da matéria-prima proveniente dos resíduos domésticos”. Muitas embalagens chegam aos centros de triagem com contaminantes – como papel, metais ou restos de comida – o que dificulta o processo e afeta a qualidade final do material reciclado.

Assim, o contributo dos cidadãos é essencial. Respeitar as instruções de separação de resíduos, evitar colocar restos de comida, materiais não recicláveis ou contaminantes, no ecoponto amarelo, e ainda remover os absorvedores de suco das cuvetes antes de descartar as embalagens, é essencial.

Este projeto encontra-se já numa fase avançada, com a tecnologia validada em ambiente piloto e pronta para ser escalada a nível industrial. A sua implementação – fácil, uma vez que utiliza tecnologias semelhantes às linhas de lavagem convencionais e custos associados relativamente inferiores em comparação com outras soluções – representará um passo significativo em Portugal e na Europa para aumentar as taxas de reciclagem de embalagens.

Projeto apoiado e cofinanciado pela Sociedade Ponto Verde no âmbito do seu Programa de I&D