Macroatenções viradas para os microplásticos
A Universidade do Minho foi claramente bem-sucedida no propósito de identificar microplásticos em produtos de retalho e distribuição alimentar – tendo por referência o portefólio do seu parceiro de projeto – e substituí-los por produtos de base natural.
Análise de Microplásticos em Produtos, Embalagens e no Meio Ambiente. Assim se chama o projeto concluído em dezembro pelo Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) da Universidade do Minho, em parceria com a Sonae MC. “Conseguimos em vários casos introduzir produtos de base natural em substituição dos que incorporavam microplásticos, procedimentos que têm um impacto direto nas boas práticas de sustentabilidade da empresa”, avança Bruno Pereira da Silva, head of Circular Economy and Environment do PIEP.
Um cenário inquietante…
A pertinência deste projeto surge do contexto da poluição marinha e da urgência de respostas face às preocupações maiores com a saúde planetária. Estes “microplásticos”, que podem ter até cinco milímetros de diâmetro, vão parar aos oceanos devido à decomposição de resíduos (plásticos) marinhos, escoamento de águas pluviais, entre outras fontes.
Por outras palavras, os microplásticos passam a ser alimento da vida marinha, principalmente das aves, peixes, mamíferos e plantas.
É imperativo lembrar que os produtos químicos presentes nos microplásticos estão associados a graves consequências para a saúde, incluindo alterações na genética humana, no desenvolvimento do cérebro e na frequência respiratória.
Bruno Pereira da Silva sublinha que “os cosméticos, detergentes e produtos de higiene pessoal são alguns dos produtos básicos das rotinas do nosso dia a dia que podem estar carregados de microplásticos, incluindo os microplásticos primários, que são produzidos e adicionados intencionalmente”.
Além de entrarem na cadeia alimentar humana através dos frutos do mar, “as pessoas podem inalar microplásticos do ar, ingeri-los da água e absorvê-los através de produtos para a pele. Foram encontrados microplásticos em vários órgãos humanos e, até, na placenta de recém-nascidos”.
… pede soluções urgentes, responsáveis, impactantes
São, de facto, várias e determinantes as razões que estão na origem deste projeto. Ao longo do seu desenvolvimento, o grande desafio com que a equipa de investigação se confrontou foi o tempo exigido pela complexa caracterização de áreas até 1 micron quadrado (unidade de medida). Em boa verdade, isso até acabou por ser muito positivo, pois revelou um potencial alargado e eficiente na caracterização dos microplásticos, tanto nesta como noutras áreas em que o futuro sustentável exige intervenção na mesma linha”, revela Bruno Pereira da Silva.
Do ponto de vista do parceiro do projeto, a identificação da presença de microplásticos nos seus produtos e a respetiva caracterização, desde o produto embalado até à embalagem, representam um passo em frente no apoio à tomada de decisão; ou seja, decidir relativamente à embalagem e às referências do portefólio, atuais e futuras, no que tem a ver com a redução de impacto ambiental e de higiene e segurança.
Estamos perante um projeto diferenciador. A metodologia adotada revelou-se fiável, reproduzível e que pode ser aplicada em larga escala.
Estes argumentos saem, objetivamente, reforçados pela análise de um universo de produtos onde, a partir de agora, é possível promover a substituição dos microplásticos por produtos de base natural.
Igualmente diferenciador é o facto de a referida metodologia ser aplicável à caracterização de microplásticos no meio hídrico, considerando o mar, os rios e as lagoas.
“A esta escala, estamos certos de que a solução é única”, logo inovadora, “permitindo assim que possamos suportar a nível nacional e internacional entidades e empresas na caracterização de microplásticos, com todos os benefícios que daí resultam para o futuro do Planeta”, conclui o Head of Circular Economy and Environment do PIEP.
Este é um projeto apoiado e cofinanciado pela Sociedade Ponto Verde no âmbito do seu Programa de I&D