O futuro servido de bandeja

É essa a preocupação da União Europeia, que em setembro de 2022 avançou com legislação para garantir que o plástico reciclado pode ser utilizado com segurança nas embalagens de alimentos na UE.  As novas regras implicam a reciclagem diferenciada dos tabuleiros de PET, separando-a dos plásticos mistos. Em Portugal, a Ecoibéria leu antecipadamente esse cenário, quando em 2021 apresentou as conclusões do estudo RePETir Trays.

Vamos ao encontro de Milena Parnigoni, recycling consultant do Grupo Logoplaste e uma das fundadoras da Ecoibéria, a maior empresa a nível nacional, e uma das mais relevantes na Península Ibérica, na área da reciclagem de polietileno tereftalato, centrada, concretamente, nas garrafas de PET.

O propósito do RePETir Trays foi justamente avaliar, através da linha de triageme lavagem de garrafas, “a possibilidade e a rentabilidade da reciclagem mecânica de tabuleiros de PET provenientes seja de recolha seletiva, ou de TMB [Unidades de Tratamento Mecânico e Biológico]”.

Dito de outro modo, tratou-se de “verificar a possibilidade de retirar esta fração ao downcycling dos plásticos mistos” e, numa lógica de circularidade, “criar uma nova cadeia de valor para fornecer matéria-prima secundária às empresas de embalagens de PET”.

PET RECICLADO
Procura crescente


Milena Parnigoni faz questão de lembrar que o RePETir Trays surgiu na sequência de vários pedidos de clientes multinacionais da Ecoibéria, “num tempo em que não havia tecnologia, nem equipamentos de reciclagem para esta vertente específica”, mas em que era já muito notada a procura de PET reciclado.

O facto é que a escassez deste recurso vinha sendo preocupação crescente por parte de produtores de garrafas e de produtores de lâminas para termoformagem. “Ora, visando aumentar a disponibilidade de matéria-prima em ambos os mercados, de pronto se concluiu ser determinante a valorização de tabuleiros para produção de lâmina, tendo em vista uma possível produção de novos tabuleiros”.

O primeiro passo foi caracterizar, “ver o que o lote de tabuleiros que nos forneceram incorporava, se monolayer (monocamada) ou multilayer (multicamada), o tipo de adesivo, entre outras especificações”.

GARRAFA E TABULEIRO “JOGAM” MELHOR EM LINHAS DIFERENTES

Feita a caracterização, seguiram-se testes de diferente tipologia e, finalmente, o estudo de rentabilidade.

Simplificando, “em vez de garrafas, colocámos tabuleiros na linha de triagem e lavagem.  Sucede que, com as mesmas condições e utilizando a mesma linha, processar e reciclar garrafas de PET é uma coisa, e coisa bem diferente acontece se estivermos a falar de tabuleiros de PET”, frisa Milena Parnigoni. 

“Os testes que realizámos”, acrescenta, “trouxeram à evidência não ser rentável trabalhar as duas referências numa linha pensada para garrafas de PET; é recomendável uma outra linha, incorporando tecnologia de reciclagem mecânica diferente, ou seja, não limitada a triturar, lavar e descontaminar, o que implica, necessariamente, outro tipo de investimento”.

Milena Parnigoni refere-se a um aporte tecnológico com características diferentes, permitindo realizar outro tipo de processos, como, por exemplo, a delaminação dos tabuleiros de PET.

O RePETir Trays foi um estudo que, no essencial, antecipou estes desenvolvimentos. Desde logo a necessidade de criar um fluxo dedicado aos tabuleiros de PET, que a legislação europeia veio, agora, estabelecer.

Fica a certeza de que, neste universo PET, processar e reciclar garrafas e tabuleiros não é a mesma coisa do ponto de vista da rentabilidade.

Tem a palavra a tecnologia que, neste capítulo, melhor responde aos desafios da economia circular.

Este é um projeto apoiado e cofinanciado pela Sociedade Ponto Verde no âmbito do seu Programa de I&D